A Igreja Universal nas Américas: Entre a Expansão e os Limites Culturais
- Antonio Carlos Faustino
- 6 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 6 dias

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fundada no Brasil por Edir Macedo em 1977, tornou-se uma das maiores denominações evangélicas neopentecostais do mundo. Conhecida por seu discurso centrado na teologia da prosperidade, exorcismos e campanhas de fé, a igreja iniciou um processo acelerado de internacionalização a partir dos anos 1980.
No entanto, embora tenha alcançado sucesso expressivo em países como Brasil, Angola e Moçambique, sua expansão nas Américas encontrou níveis variados de aceitação, muitas vezes esbarrando em resistências culturais, religiosas, legais e institucionais. Este artigo compara a atuação da IURD nos principais países do continente americano, com foco em estratégias, obstáculos e resultados.
1. Brasil: O Berço e o Modelo
Estratégia
No Brasil, a IURD construiu seu império com base em:
Uma comunicação de massa eficaz (rádios, canais de TV, jornais);
Forte presença em bairros populares;
Um discurso de "batalha espiritual" que atraiu pessoas em busca de milagres, cura e prosperidade;
Criação da Rede Record de Televisão, adquirida em 1989, ampliando sua influência política e midiática.
Resultados
Milhões de fiéis em todo o país;
Forte influência política, com bancadas evangélicas no Congresso;
Uma estrutura institucional sólida, com templos em todos os estados e o gigantesco Templo de Salomão, em São Paulo.
A atuação brasileira tornou-se o modelo exportado para outros países, mas nem sempre com os mesmos resultados.
2. Chile: Resistência Cultural e Queda de Credibilidade
Estratégia
A IURD chegou ao Chile nos anos 1990 com o mesmo modelo brasileiro: ênfase em milagres, campanhas como a “Fogueira Santa de Israel” e busca por grandes templos.
Obstáculos
Rejeição cultural: o Chile tem uma tradição religiosa mais conservadora e racional, mesmo entre evangélicos;
Críticas à teologia da prosperidade e ao pedido de "sacrifícios financeiros";
Imprensa negativa, com reportagens denunciando a pressão sobre fiéis pobres para doações exageradas;
Problemas legais e dificuldades para obter personalidade jurídica nos anos iniciais.
Resultado
Apesar de um investimento milionário em um templo em Santiago (US$ 6 milhões), a IURD nunca conseguiu se popularizar no país. Foi vista com desconfiança tanto por católicos quanto por evangélicos tradicionais.
Fonte: Agência Pública – “Pare de Sofrer: os segredos da IURD no Chile”
3. Argentina: Barreiras Mídia e Religiosas
Estratégia
A igreja chegou à Argentina também nos anos 1990, com foco nas classes populares urbanas e estrutura de mídia local.
Obstáculos
Forte presença da Igreja Católica, especialmente nas classes políticas e na mídia;
Reportagens investigativas expuseram as práticas da igreja, gerando escândalos;
Resistência institucional e menor receptividade da população a práticas como exorcismo público e promessas financeiras.
Resultado
A IURD mantém presença na Argentina, mas com crescimento modesto e pouca visibilidade social ou política.
Fonte: Clarín (Argentina) – Reportagens sobre as práticas controversas da IURD.
4. México: Terreno Difícil e Baixa Penetração
Estratégia
A estratégia foi semelhante: buscar áreas urbanas pobres, investir em rádio e TV e replicar o modelo brasileiro.
Obstáculos
O México é um dos países mais católicos do mundo;
A religiosidade popular gira em torno de santos, rituais e festas religiosas – bastante diferentes do modelo de fé “agressiva” da IURD;
Pouca aceitação das práticas de exorcismo e da retórica de prosperidade por parte do público mexicano;
Concorrência com igrejas evangélicas já estabelecidas, como os pentecostais locais.
Resultado
A IURD opera no México, mas sem impacto significativo. A igreja possui presença em algumas cidades, mas com alcance limitado.
5. Colômbia: Evangelismo Forte, Mas Pouco Espaço
Estratégia
A Colômbia tem uma das maiores populações evangélicas da América do Sul, o que a torna atrativa para igrejas como a IURD.
Obstáculos
Igrejas pentecostais locais como a “Iglesia Misión Carismática Internacional” já dominam o espaço religioso;
Cultura evangélica mais voltada ao culto espontâneo e menos institucionalizado;
Críticas ao estilo mercantilizado da fé promovido pela IURD.
Resultado
A IURD tem presença na Colômbia, mas é considerada uma denominação menor, com pouca visibilidade pública.
6. Estados Unidos: Êxito Relativo em Nichos de Imigrantes
Estratégia
A IURD estabeleceu-se em cidades com grandes comunidades de brasileiros, hispânicos e africanos, como:
Nova York;
Miami;
Newark (New Jersey).
Ela também fundou a versão americana do “Templo de Salomão” em Houston, Texas.
Obstáculos
Barreiras linguísticas e culturais com o público americano nativo;
Concorrência com megaigrejas evangélicas já estabelecidas;
Rejeição a práticas como o exorcismo e promessas financeiras, consideradas abusivas por parte da imprensa e da comunidade cristã americana.
Resultado
A IURD é relevante entre imigrantes, mas tem baixo impacto no público norte-americano tradicional. Sua atuação é considerada de nicho.
Fonte: Artigos do Houston Chronicle e do The New York Times sobre igrejas imigrantes.
7. Haiti e América Central: Adoção Limitada e Volátil
Estratégia
Em países como o Haiti, El Salvador e Guatemala, a IURD chegou a ter alguma presença, sempre mirando populações empobrecidas e vulneráveis.
Obstáculos
Instabilidade política e religiosa;
Concorrência com igrejas evangélicas locais e movimentos pentecostais autóctones;
Desconhecimento cultural: em muitos desses países, as manifestações religiosas possuem traços sincréticos (como o vodu haitiano) que colidem com a doutrina rígida da IURD.
Resultado
Presença pontual, sem consolidação relevante.
Conclusão
A trajetória da Igreja Universal nas Américas revela que seu modelo de expansão funciona melhor em contextos onde existe maior abertura à teologia da prosperidade, forte presença midiática e uma cultura religiosa emocional e popular. Fora do Brasil, esses elementos nem sempre estão presentes – e a falta de adaptação da IURD à realidade local tem sido um obstáculo constante.
Ao tentar replicar um modelo brasileiro sem flexibilidade cultural, a igreja encontrou resistência institucional, barreiras religiosas e críticas públicas. Seu sucesso, portanto, depende diretamente de sua capacidade de se contextualizar sem abrir mão de sua identidade teológica.
A atuação da Igreja Universal fora do Brasil revelou que o sucesso depende da adaptação cultural e da sensibilidade às práticas religiosas locais. A tentativa de replicar o modelo brasileiro gerou resistências e frustração em diversos contextos das Américas.
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