McKinley, Monroe, Trump e a Hegemonia dos EUA na Geopolítica Mundial
- Antonio Carlos Faustino
- há 2 dias
- 4 min de leitura

Introdução
Os Estados Unidos da América, desde sua consolidação como potência, vêm estruturando sua política externa com base em doutrinas e ações que reafirmam sua hegemonia no sistema internacional. De James Monroe, no século XIX, passando por William McKinley no apogeu do imperialismo norte-americano, até Donald Trump, no retorno do nacionalismo e isolacionismo estratégico, a lógica do domínio geopolítico americano continua viva — e fortemente presente nas Américas.
Este artigo analisa o legado dessas três figuras na consolidação da supremacia dos EUA, seu impacto sobre a América Latina e o Caribe, e as implicações para a atual ordem global.
A Doutrina Monroe: América para os americanos?
Em 1823, o então presidente James Monroe lançou uma das bases mais duradouras da política externa americana: a Doutrina Monroe. Seu princípio central era simples e ao mesmo tempo ambíguo: "a América para os americanos". À primeira vista, parecia uma mensagem de proteção contra intervenções europeias, mas ao longo do tempo tornou-se um instrumento para afirmar a primazia dos EUA sobre o hemisfério ocidental.
No século XX, essa doutrina seria usada como justificativa para múltiplas intervenções militares, golpes de Estado, apoio a ditaduras e manipulações políticas nos países latino-americanos — tudo em nome da estabilidade regional e da segurança nacional dos EUA.
McKinley e o imperialismo formal
Durante o governo William McKinley (1897–1901), os EUA deixaram claro que estavam prontos para ultrapassar suas fronteiras continentais. Foi sob sua liderança que os Estados Unidos entraram na Guerra Hispano-Americana (1898), resultando na ocupação de Cuba, Porto Rico, Guam e Filipinas.
A doutrina da “missão civilizadora”, tão presente no discurso europeu imperialista da época, também foi apropriada pelos norte-americanos. McKinley afirmou ter ouvido de Deus que era seu dever levar "religião, civilização e liberdade" aos povos colonizados — o que, na prática, resultou em intervenções violentas e ocupações duradouras.
O “novo imperialismo americano” nascia com força: militar, econômico e ideológico.
Donald Trump e a nova face do hegemonismo
Com a ascensão de Donald Trump à presidência em 2016, o mundo assistiu a um reposicionamento da política externa dos EUA. Sob o slogan “America First”, o programa MAGA (Make America Great Again) trouxe uma nova roupagem à hegemonia tradicional: protecionismo econômico, pressão sobre aliados, retirada de acordos internacionais e ameaças à ordem multilateral.
Trump intensificou sanções econômicas, inclusive contra países latino-americanos como Venezuela, Cuba e Nicarágua, ao mesmo tempo em que se afastava de compromissos históricos com o multilateralismo, como a ONU e a OMC.
Embora criticado por seu estilo combativo, Trump apenas retomou a lógica de dominação e controle hemisférico, revivendo a Doutrina Monroe em tom explícito. Em 2019, seu conselheiro de segurança nacional, John Bolton, declarou que “a Doutrina Monroe está viva”.
A hegemonia americana na prática: intervenções e influência
Ao longo das décadas, os EUA aplicaram sua hegemonia de diversas formas:
Intervenções militares: República Dominicana (1965), Panamá (1989), Haiti (1994).
Golpes apoiados: Chile (1973), Brasil (1964), Guatemala (1954).
Controle econômico: por meio de instituições como FMI, Banco Mundial e acordos bilaterais assimétricos.
Guerras comerciais e tarifárias, como observado nas recentes disputas com a China e a imposição de sanções.
Esse padrão demonstra que a hegemonia dos EUA não é apenas militar, mas profundamente estrutural e estratégica, com efeitos diretos nas economias e democracias da América Latina.
O contra-ataque diplomático: CELAC, BRICS e a busca por autonomia
Nos últimos anos, blocos como a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a aproximação com potências como China e Rússia têm revelado uma tentativa dos países latino-americanos de buscar autonomia geopolítica. A adesão de países como Argentina e Brasil aos BRICS ampliados é sinal de que há uma movimentação por um novo equilíbrio global.
Entretanto, o poder de influência dos EUA permanece vasto. As redes de espionagem reveladas por Snowden, a pressão diplomática exercida via OEA e a dependência econômica ainda colocam os países do sul do continente em posição de vulnerabilidade.
O que a história nos ensina?
A trajetória entre Monroe, McKinley e Trump mostra que, embora os métodos mudem, a estratégia de hegemonia se mantém constante. Os EUA não se comportam como uma nação entre iguais, mas como guardião de uma ordem internacional que favorece seus interesses.
O desafio para os países da América Latina e Caribe é construir políticas externas soberanas, fortalecer sua integração regional e desenvolver uma visão própria de desenvolvimento e democracia, livre das imposições do “colonizador que deu certo”.
Considerações finais
A hegemonia dos EUA é um processo histórico, alimentado por doutrinas como a de Monroe, pela expansão imperialista sob McKinley e pelo nacionalismo agressivo de Trump. Entender essa trajetória é fundamental para que os países latino-americanos possam resistir, negociar e propor alternativas.
Enquanto a América Latina continua buscando seu lugar no mundo, a pergunta que resta é: estamos preparados para construir uma soberania real em um sistema global ainda dominado pelos ecos do velho imperialismo?
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