O Colonizado Que Deu Certo: O Programa MAGA e os Países da CELAC no Tabuleiro Geopolítico Atual
- Antonio Carlos Faustino
- há 3 dias
- 3 min de leitura

Introdução: entre a história e a geopolítica
Os Estados Unidos, nação que um dia foi colônia, se transformaram no principal protagonista da política internacional moderna. No entanto, o sucesso dessa antiga colônia contrasta com os desafios históricos, sociais e políticos enfrentados pelos países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que ainda lutam para se consolidar como blocos autônomos e soberanos. O programa "Make America Great Again" (MAGA), impulsionado por Donald Trump e perpetuado por diversas lideranças conservadoras, reacende não apenas uma agenda interna de supremacia, mas também uma postura externa intervencionista, com sérios reflexos para a América Latina e o Caribe.
1. A Recolonização Moderna: uma estratégia silenciosa
A ideia de “recolonização” não parte do domínio territorial clássico, mas de formas sofisticadas de influência econômica, cultural e política. O MAGA, enquanto discurso e prática de poder, resgata a Doutrina Monroe sob uma nova roupagem, reafirmando o lema “a América para os americanos”, que na prática sempre significou “a América para os Estados Unidos”.
O avanço sobre recursos naturais, o estímulo a mudanças de regime (regime change), o uso de sanções econômicas e até o domínio da narrativa midiática são ferramentas contemporâneas de influência que afetam diretamente os países da CELAC.
"Os Estados Unidos não têm amigos permanentes, apenas
interesses permanentes." — Henry Kissinger
2. CELAC: resistência, união e desafios
A CELAC, formada por 33 países da América Latina e do Caribe, tem buscado estabelecer uma agenda própria, baseada na cooperação regional, sustentabilidade e multilateralismo. No entanto, enfrenta sérias dificuldades internas:
Fragmentação política: ideologias divergentes entre governos de esquerda e direita enfraquecem a unidade.
Dependência econômica: muitos países ainda estão presos à exportação de commodities e à dívida externa.
Pressões externas: tanto dos EUA quanto de outras potências, como China e União Europeia.
Mesmo assim, a CELAC tem se posicionado como um espaço de resistência ao hegemonismo norte-americano e de abertura a parcerias mais igualitárias.
3. O programa MAGA e a geopolítica hemisférica
O MAGA não se resume a um slogan populista. Ele representa um projeto político-econômico que busca restaurar a supremacia econômica e militar dos EUA diante da ascensão de outras potências. A América Latina e o Caribe aparecem nesse contexto como áreas de influência estratégica. Os reflexos disso incluem:
Bloqueios e sanções (como em Cuba e Venezuela)
Pressão para acordos comerciais assimétricos
Militarização de fronteiras e controle migratório
Intervenções indiretas via ONGs e empresas multinacionais
4. O risco da perda de soberania regional
A recolonização simbólica se traduz também no campo ideológico. Através da cultura pop, da mídia hegemônica e das redes sociais controladas por empresas norte-americanas, valores e visões de mundo são exportados para o sul global, minando culturas locais e independência intelectual.
Os países da CELAC precisam adotar políticas públicas de valorização cultural, proteção de dados e incentivo à educação crítica, como estratégias de defesa contra esse "soft power" que se infiltra sem resistência.
5. Alternativas e caminhos possíveis para a CELAC
Para se contrapor à recolonização contemporânea, os países da CELAC devem:
Fortalecer a integração regional real e pragmática
Através de políticas comerciais, educacionais e tecnológicas conjuntas.
Apostar em uma diplomacia multivetorial
Firmando parcerias com outras regiões, como África, Ásia e BRICS.
Investir em soberania digital e energética
Criar infraestruturas próprias para telecomunicação, energia limpa e segurança da informação.
Educar para a autonomia
Com programas regionais de intercâmbio, cultura e conhecimento.
6. A história como alerta e inspiração
A história nos mostra que o continente latino-americano já foi palco de grandes experiências de autonomia — como o pan-americanismo de Bolívar e San Martín, as tentativas de unificação como o Mercosul, e até movimentos mais recentes como a ALBA.
No entanto, sempre que houve avanço, também houve contra-ataque. O desafio agora é aprender com o passado sem repetir os mesmos erros.
Conclusão: entre a resistência e a reconstrução
A CELAC pode sim se afirmar como um bloco estratégico e relevante no cenário global. Para isso, é preciso compreender que a recolonização atual não é mais feita com fuzis, mas com contratos, algoritmos e influência ideológica.
O programa MAGA representa mais do que um movimento conservador interno: ele é o símbolo de uma tentativa de manutenção do status quo global que precisa ser encarado com lucidez, firmeza e coragem pela América Latina e o Caribe.
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